Colocando aqui trechos do meu trabalho de Estética sobre Walter Benjamin, que, por sinal, ficou bem legal.
A OBRA DE ARTE NA ERA DAS TÉCNICAS DE
REPRODUÇÃO
Em todas as épocas a obra de
arte foi suscetível a reprodução, o que uns faziam outros podiam copiar e
refazer. Antes, os discípulos copiavam seus mestres com o intuito de exercitar,
aprender, os mestres difundiam suas obras afim do reconhecimento e os falsários
faziam as imitações com o objetivo de lucrar, extraindo o proveito material da
obra de arte.
As técnicas de reprodução é
algo novo, que ganhou ainda mais visibilidade e deu seu crescimento principal
no final do século XIX, início do XX, quando as produções em série começaram a
ser feitas, pensando, nesse momento (começo da modernidade), não só na
burguesia e nos ricos, mas também no lucro em se vender para os trabalhadores,
popularizando tudo o que, até indo, era produtos somente de uma determinada classe.
Na Grécia havia dois
processos técnicos de reprodução: a fundição e a cunhagem. Na Idade Média viria
a aduzir a litografia, isso no início do século XIX. A litografia trouxe
consigo técnicas de reprodução que marcaram um processo decisivo, permitindo
não só o processo de das reproduções em série, mas também a possibilidade de
produzir obras novas (o desenho submetido a pedra calcária, diferente do
talhamento na madeira). Esse processo foi importante para a imprensa, tornou-se
colaborador íntimo. Até que chega, algumas dezenas de anos depois a fotografia.
Com a fotografia reprodução
das imagens pôde se concretizar num ritmo tão acelerado que, eu diria, roubou
até um pouco do espaço das palavras, dos textos. Enquanto a litografia abria
perspectivas para o jornal ilustrado; a fotografia continha traços e indícios
do cinema falado.
Com a chegada do século XX,
as técnicas de reprodução atingiram tal nível que elas próprias se impunham (e
“incorporaram”) como se fossem formas originais da arte, e não reproduções das
artes em si.
Até a mais perfeita
reprodução vai faltar algo: a unidade de sua presença no próprio local onde se
encontra. Ou seja, registra-se o momento, mas o que ocorre de fato, as
sensações, emoções, sentimentos nem sempre são reproduzidos, por isso, talvez,
falte esse “algo a mais”.
O hic et nunc do original é
autêntico. O que é feito pela mão do ser humano é uma falsificação, o original
mantém a autoridade, a autenticidade, é aquilo que está acontecendo ali, no
momento. Mas com a reprodução técnica é diferente, por vezes é mais
independente do que venha a ser o original. Ou também a técnica pode levara
reprodução de situações onde o original não seria encontrado. E há um certo
descaso com o original, aquilo que dá vida e, muitas vezes faz sentido a obra.
Na época das técnicas de
reprodução, o que é atingido pela obriga de arte é a sua significação, a sua aura. Onde a multiplicação das cópias
torna-se um evento produzido apenas para suprir o fenômeno das massas. O que
remete o povo ter acesso e conhecimento a um mundo elitista onde somente
pouquíssimos tinham acesso.
O agente mais eficaz nos
movimentos de massa é o cinema, com muito público em todo o mundo. Benjamin, e
outros pensadores e filósofos, considera o cinema catártico, mas eficaz.
A obra é única, e o que a
torna assim é a sua aura, o sentido
que ela carrega. No começo as obras eram cultuadas para que exprimissem as
incorporações num conjunto de tradições. Quando surgiu a primeira técnica de
reprodução verdadeiramente revolucionária, a fotografia (contemporânea dos
primórdios do socialismo), os artistas ficaram receosos, houve uma teologia da
arte. Achavam que a arte acabaria, mas não foi bem assim, pelo contrário.
Para estudarmos as obras de
arte nas épocas das técnicas de reprodutibilidade, é preciso levar em conta uma
série de coisas, como: a emancipação da obra de arte com relação à existência
estática por causa de seu papel ritualístico, religioso. A produção artística inicia-se mediante a
imagens que servem ao culto. Com a fotografia, o valor de exibição começa a empurrar
o valor do culto para um segundo plano. O clichê aparece em primeiro. Isso
pode-se notar em qualquer lugar, ou melhor, fotografia, segue-se um parâmetro,
e parece haver mais liberdade em um quadro, uma obra, muitas vezes do que em
uma fotografia, o clichê atrapalha algo que podia-se ir além.
Nasce no século XX uma nova
forma de arte, o cinema. Enquanto questionavam se fotografia era ou não arte, o
cinema cresce trazendo outras indagações. A nova arte gerou um desconforto,
pois, possuía uma enorme capacidade de persuasão, e era algo totalmente técnico
e mecanizado, ou contrário do teatro. O ator no cinema necessita de mediação de
todo um mecanismo.
No cinema, é menos
importante o intérprete apresentar ao público uma outra personagem do que
apresentar-se a si próprio. Pirandello foi o primeiro a sentir essa modificação
que se impõe ao artista; a experiência do teste. Para ele os atores de cinema
sentem-se como se estivessem exilados, dá cena e deles mesmos. O artista,
decorrente da obra prima do cinema, deve agir com uma personalidade viva, mas
privado da aura. Por exemplo, no
teatro de Macbeth é inseparável a aura do ator, essa presença. Então, no cinema
essa aura desapareceria gradativamente mediante aos mecanismos.
A medida em que restringe o
papel da aura, o cinema constrói
artificialmente, fora do estúdio, a “personalidade do ator”; o culto ao astro,
que favorece ao capitalismo dos produtores e cuja magia é garantida pela
personalidade construída como mercadoria. É o capitalismo que conduz o jogo.
O público do cinema não
separa a crítica da fruição, critica-se a contragosto. E a construção em cima
da pessoa e não do artista, a mercadoria que o profissional se torna, fomenta
essa indústria cinematográfica capitalista. Então, muitas vezes, você vai ver
um filme porque ta lá na telona o Brad Pitt ou o Tom Cruise, você vai pelo
artista, quase nunca se vai pela obra a ser mostrada, ou roteiro, ou porque tem
uma boa trilha sonora.
A massa é a matriz de onde
emana, no momento atual, todo um conjunto de atitudes novas com relação à arte.
A quantidade virou sinônimo de qualidade. Porém não deve se discriminar o
público do cinema, pois ele também é um examinador, mas é um examinador que se
distrai.
MODERNIDADE, HIPERESTÍMULO E O INÍCIO DO
SENSACIONALISMO POPULAR
O termo modernidade remete a
muitas idéias. Com um conceito moral e político, a modernidade sugere o
“desamparo ideológico” de um mundo pós-feudal e sagrado, no qual todas as
normas, valores, costumes eram sujeitos a questionamentos. Como um conceito cognitivo, a modernidade
aponta para o surgimento da racionalidade instrumental como a moldura
intelectual por meio da qual o mundo é visto. Como um conceito socioeconômico,
a modernidade designa uma gama de qualidades e mudanças tecnológicas e sociais,
entre elas: industrialização, urbanização e crescimento populacional de forma
muita rápida; proliferação de novas tecnologias e meios de transporte;
saturação do capitalismo; explosão de uma cultura de massa voltada para o
consumismo, etc.
Para Benjamim e outros
filósofos, a modernidade também tem que ser entendida como um registro da
experiência subjetiva caracterizada pelas percepções do ambiente urbano
moderno, que era caótico, rápido, fragmentado, desorientador, em meio à
turbulência sem precedentes do tráfego, barulho, painéis, sinais de trânsito,
multidões, vitrines, e etc. O ritmo de vida tornou-se muito mais agitado, o que
levou a crer que a modernidade foi um bombardeio de estímulos; transformando
psicologicamente e fisicamente as pessoas que viviam nessas metrópoles.
Como tudo era novo,
acidentes de trabalho, assaltos, atropelamentos, suicídios e homicídios
tornaram-se algo costumeiro. Cartunistas do começo do século XX retratavam
essas situações caóticas do comecinho da nossa modernidade. Mas não era só
isso, o sensacionalismo estava ali, presente, cartazes e mais cartazes
espalhavam pelas cidades as novidades do mundo moderno, eram peças, notícias,
informativos, que se misturavam no corre-corre.
Mas ainda estava presente
ali, aquele embate, aquela passagem do velho para o novo, o pré-modernismo para
o modernismo de fato. E aí vem o sensacionalismo, mostrar para o povo as
desgraças do povo nessa nova era. Por exemplo: “fulano se jogou do prédio, no
outro dia, cedo no jornal ele vai estar na capa, estraçalhado, para todos
verem. Isso é o sensacionalismo. Vamos aproveitar, que vende, deviam pensar. E
não estavam errados. Aproveitavam o fato da morte não natural ser novidade, e
as atrocidades, mutilações, davam medo, era novo, então atraia público.
O cinema, para Benjamin,
forneceria um treinamento em lidar com estímulos do mundo moderno. Pois o ritmo
é frenético, nossa fuga é a arte e o sensacionalismo parece querer nos mostrar
a todo custo tamanho desequilíbrio social moderno.